A crise quando nasce NÃO é para todos.
Há dias uma pessoa conhecida incluiu-me na categoria dos velhos do Restelo, por eu não compreender como é possível ir gastar 3,3 mil milhões de euros no novo TGV para Madrid, quando o país atravessa uma tão grande crise. A viagem custará cerca de 100 euros e por um terço desta quantia vai-se de avião! Se os actuais comboios portugueses andam tão vazios, é evidente que este TGV para Madrid vai andar muito mais vazio. Vai ser mais uma daquelas obras faraónicas, que custam uma fortuna, que são um peso morto nas nossas debilitadas contas públicas e que pouco ou nada adiantam para o desenvolvimento do País. Veja-se a construção de tantos estádios de futebol, as refinarias de Sines, o Alqueva… Tudo, caríssimos projectos furados. Passado pouco tempo depois de estarem prontos, ficaram às moscas, perdidos dos objectivos para que tinham sido construídos. Mas para isso arranjou-se (muito) dinheiro, apesar das crises.
“Sabe tão bem hoje em dia apanhar o TGV na Gare du Midi e ir direitinha até à gare du Nord em Paris ou à gare de Waterloo em Londres ou até ao sul de França onde eu e o Zé fomos, em 7 horas creio, e...” - disse-me a tal pessoa amiga, que vive em Bruxelas.
Pois...
Eu digo mais: Saberia tão bem acordar de manhã e ter dinheiro para comprar o almoço … e ter um trabalho, um emprego. Saberia tão bem conseguir chegar ao fim do mês ainda com alguns trocos no bolso. Saberia tão bem não ter de gastar tanto para deixar os filhos na creche. Saberia tão bem ter um lar decente onde colocar os idosos que já não podem ficar sozinhos em casa. Saberia tão bem poder recorrer a um médico a menos de 200km de casa. Saberia tão bem saber que os nossos filhos são bem cuidados nas escolas, que os ensinam segundo as suas necessidades e não em função da poupança nos gastos.
Ainda há uns “velhos de Restelo” que se indignam contra a pobreza e que acham escandaloso e imoral que se gaste balúrdios em obras de puro luxo à custa de políticas que põem cada vez mais portugueses na miséria. É simplesmente imoral que se continue a falar na crise, mas com a barriguinha bem cheia, como se a crise fosse só para os outros.
Manuel Alegre declara lealdade "aos que votaram no PS e estão na pobreza".
Também Mário Soares é um bom "velho do Restelo", do outro PS, que alerta para as políticas ultra direitoides deste PS que nos governa.
Também José Leitão, do outro PS, propõe um debate político na esquerda que seja racional e argumentativo.
Felizmente há ainda uns saudáveis "velhos do Restelo" que fazem ouvir as suas vozes e que não se deixam iludir com futebois. Pode ser que um dia façam a diferença. São pessoas assim que nos dão esperança para que continuemos a acreditar que "yes we can".
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