O Mistério da Educação
Já muito se disse e eu já desisti de pensar no que se poderia fazer para melhorar este estado de coisas. Mas já que Que Universidade e Um pouco mais de azul se referem ao artigo de António Barreto, sobre este assunto publicado no Público, vou resumir o que penso, sobretudo no que diz respeito à minha área.
Em primeiro lugar, penso que o Ministério da Educação é um monstro velho, cheio de manhas, estático e quase impossível de governar. Tenho assistido ao longo dos anos a pessoas que chegam lá cheias de entusiasmo, confiantes que têm a fórmula mágica para pôr as coisas a funcionar bem e saem de lá queimadas. Mudaram tudo, viraram os programas do avesso, mas continua tudo mal, ou pior! Por isso, eu também não tenho a solução.
Na área que me toca, a matemática, posso só dar algumas achegas. A verdade é que os alunos que chegam ao 1º ano da faculdade vêm cada vez mais impreparados. Ainda ontem a corrigir testes, vi um que aluno não sabia resolver uma equação do 2º grau, numa cadeira do 2º ano!!! Às vezes não sabem sequer somar fracções. Como conseguiram chegar à faculdade, passando nos vários exames, assim??? Só pode ser pelo facilitismo, pela “demagogia da facilidade “, pelas “bizarrias ideológicas” que promovem “alteração radical dos programas, dos métodos, dos currículos, dos manuais, da disciplina” ... “que pretendem fazer do ensino uma festa de prazer e preguiça”, e pela “condenação da disciplina”. Como agravante temos assistido também a “instruções políticas e administrativas dadas por um ou outro ministro...no sentido de aumentar as notas, repescar alunos chumbados, eliminar os exames, facilitar as passagens automáticas e evitar os repetentes” , como disse ANTÓNIO BARRETO.
Eu tenho pena dos actuais alunos do secundário, para quem a matemática que lhes ensinam é um somatório dum número reduzido (para não sobrecarregar o programa) de regras, de que não lhes explicam o significado. Só se pode gostar do que se conhece, do que se compreende. E só se pode ter bons resultados numa disciplina se se gostar da matéria. Tem de se aderir emocionalmente. Eu entusiasmava-me com o desafio que representava ir desenrolando o fio do raciocínio para chegar ao resultado dum problema. Resolver os exercícios num exame de matemática dáva-me gozo. Como resolver uma charada. Como um jogo. Por vezes a professora caminhando enquanto nos explicava entusiasticamente algum encadeamento lógico, não reparava que o estrado tinha acabado e caía dizendo “Ai meninas que lá vou eu!”, mas a verdade é que eu estava tão suspensa das suas palavras que também não reparava onde ela punha os pés. Isto porque tinham a preocupação de nos mostrar o porquê das coisas, o que por vezes encerra uma grande beleza. Tenho a certeza que se conseguissem mostrar aos jovens essa beleza, eles fariam tudo para ficar por dentro do assunto.
<< Home