O casamento do Pedro
Ontem fui a um casamento, um dos muitos a que tenho ido nos últimos tempos, mas este convite foi realmente uma bela e inesperado surpresa.
Já nem me lembrava de, aqui há uns anitos, ter dado uma mãozinha ao Pedro (para a família), também conhecido por António. Os pais, amigos duns amigos meus, estavam aflitos, em desespero de causa, pois o filho estava decidido a abandonar o curso, porque não conseguia atinar com as matemáticas. Já tinha feito vários exames, sem sucesso. E o sonho de que o filho completasse a licenciatura em engenharia no IST estava a esfumar-se quase antes de começar. A culpa era do surf. O rapaz passava demasiado tempo nas ondas...
Uma ou duas semanas antes do exame disse-lhe para aparecer. Já nem me lembro qual das Análises I, II, III ou IV era. No meio das explicações de meia dúzia de coisas importantes para compreender o essencial da matéria também lhe fui dizendo que não precisava de abandonar o surf. Só precisava de se organizar. Procurar sobretudo compreender a razão de ser e o encadeamento das coisas, em vez de decorar sem perceber, não ocupa tanto tempo assim.
O que é certo é que o rapaz passou no exame. E conseguiu gostar da matemática, fazer as cadeiras todas, retomar o gosto pelo curso e aí está ele, licenciado há vários anos, brilhante na sua profissão e no acto de dar este importante passo, lembrou-se de mim, que tive um tão breve e insignificante papel na sua vida.
É reconfortante saber que cumpri a minha missão. Não há estatuto da carreira docente que reconheça esta particularidade da profissão dum professor, mas não posso deixar de pensar em quantos docentes do ensino superior estão agora a ser postos de lado, sem subsídio de desemprego, podendo ter dado 20, 30 ou 40 anos da sua vida à causa de encaminhar as gerações futuras, coisa perfeitamente irrelevante para aqueles que nos governam. São seres descartáveis, sem direitos equivalentes aos demais trabalhadores. Como se pode entender e aceitar esta atitude do partido que nos governa?
Ensinar que se deve perceber o porquê de tudo e sermos obrigados a engolir as arbitrariedades que nos são impostas não é possível.
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