Interdisciplinaridades II
Sugeriram-me há dias que lesse um artigo denso e longo, que supostamente apoiaria a ideia de um ensino generalista, que “deveria começar na escola primária, prolongar-se pelo secundário e efectivar-se verdadeiramente na universidade. A vertente da especialização deveria acentuar-se, sim, nessa tal fase de investigação (ou pós-graduação).” Não posso concordar, obviamente com este ponto de vista. Eu, quando for consultar um médico quero a sua opinião de especialista, que me trate, que me cure, não vou lá para trocar ideias gerais. Quando for consultar um advogado, espero que ele, mesmo não tendo feito estudos graduados, nem qualquer tipo de investigação, seja um especialista em leis e me saiba defender.
Não me parece que o referido artigo, “A Universidade e o Conhecimento”, defenda esta ideia. Embora descreva um tipo de Universidade que não corresponde exactamente ao actual, fazendo uma análise histórica da sua evolução, tem algumas passagens com as quais concordo, nomeadamente:
[...] não é menos verdade que a competência, sem a qual o conhecimento não é operativo (dito mais simplesmente, deixa de existir) parece condenado a ser curricular. A competência interdisciplinar vem depois da disciplinar: se pretende tomar o seu lugar, o seu nome não será competência mas antes incompetência. [...]
[...]as escolas de engenharia, a que se acrescenta todo o leque de cursos, na maioria dos casos integrados na Universidade, em que a vocação aplicada e profissional não é menos importante do que a transmissão do saber. [...]
[...] Digo-me às vezes que o combate entre as duas culturas, humanística e científica, que há anos fazia correr rios de tinta, foi ganho por uma terceira, votada à gestão e à comunicação. [...]
[...] outras incertezas [...] têm a ver com a posição defensiva e reactiva das “humanidades” e com as inquietações de alguma ciência humana próxima das humanidades. [...] Muitos de nós deixaram-se de facto persuadir não se poder pretender à verdade, mesmo quando envolta em muitas aspas. Contudo as ciências parecem consegui-lo - e todos nós somos pagos para isso. De aí o inconforto que pesa sobre as humanidades, a agressividade ignorante contra o conhecimento científico ("a ciência não pensa", assim decretou Heidegger) - uma agressividade que é o modo mais expeditivo de mascarar o inconforto [...]
Pela parte que me toca, acho um perfeito disparate este tipo de guerras, humanidades- ciências, que de facto não me interessam. Quando comecei a falar de interdisciplinaridades, foi num sentido de aproximação, não de guerra. Há temas científicos que fazem a ponte com a área de humanísticas. Há pessoas que se interessam e são inovadoras simultaneamente nas duas áreas.
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