Interdisciplinaridades
Já se tem falado aqui de interdisciplinaridades. Sobre isto publicou Nuno Crato, Professor de Matemática no ISEG, um artigo na revista do Expresso de 5 de Junho. Globalmente ele condena o que chama de má interdisciplinaridade, ou seja, a que se baseia num fraco conhecimento de cada uma das disciplinas entre as quais se pretente fazer ligações. Ele afirma que contrariamente ao que apregoam os filósofos pós-modernos, não há um “policiamento das fronteiras das disciplinas”, nem é de louvar, só por si, a “transgressão de fronteiras”. Fez-me lembrar um comentário da Cassandra
Concordo que para estudantes do Secundário, ou estudantes dos primeiros anos do Universitário, a base de conhecimentos seja demasiado fraca para poderem fazer uma ponte profíqua entre várias disciplinas, mas para aqueles que já estão numa fase de investigação, penso que é vantajoso, que é um campo fértil de resultados, cruzar ramos do conhecimento cujas ligações foram pouco exploradas. Obviamente que para isso é necessário ter bases sólidas, pelo menos num dos ramos. E óbviamente que é fundamental dar aos estudantes conhecimentos sólidos e estruturados no ramo que vão seguir.
Defender um educação mais generalista ao nível do secundário é perfeitamente descabido. Por um lado não estou a ver como leccionar matemática a pessoas que escolhem cursos ligados às Humanidades, e que manifestam uma certa aversão à matemática. Por outro lado, o tempo não é elástico e se actualmente os alunos que seguem cursos ligados às Ciências e Tecnologias chegam à Universidade com uma baixíssima preparação matemática, muito pior seria se tivessem de gastar mais tempo a estudar outros tipos de matérias. Certamente estas matérias dariam um contributo positivo à sua cultura geral, mas a sobrecarga lectiva seria excessiva e impraticável.
Pela mesma razão, Nuno Crato critica também o ensino por projectos, referido em Que Universidade.
Mais uma vez, com o chamado ensino por projectos se pretende dar aos alunos um ensino vago e sem bases sólidas. É impossível compreender a matemática estudando apenas aplicações soltas e desconexas. É fundamental ensinar toda uma estrutura, um conjunto de conhecimentos encadeados e de complexidade crescente, para se ter um ponto de partida e tentar aplicar esses conhecimentos a certos casos concretos (aplicações) noutros ramos do conhecimento.
A teoria do caos veio precisamente estabelecer uma ponte entre a matemática e muitas outras disciplinas que estiveram completamente separadas até então, porque permitiu formalizar e compreender melhor certos fenómenos não determinísticos. Mas esta interdisciplinaridade fez-se a um nível muito acima do que é ensinado no ensino secundário ou mesmo universitário.
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