Ser pior professor
Foi com enorme espanto que li hoje no Expresso, página 12 do 1º caderno, um texto de Nuno Crato com o título “Dicas para ser pior professor(a)”. Diz ele que para serem promovidos na carreira, os docentes do Ensino Básico e Secundário devem frequentar acções de formação. O curioso é que essas acções de formação podem não ter nada a ver com a área em que o professor ensina. Ele brinca com a questão (acho que só pode ser brincadeira!...) diz que “um professor de matemática pode obter créditos por frequentar um curso prático de criação de bichos da seda” (se fosse teórico era mais difícil?) e um “professor de português pode subir na carreira com práticas de esqui”.
Inacreditável!
Muitas destas acções são financiadas por Bruxelas, daí os sucessivos governos não terem alterado este estado de coisas.
Como é possível que se estejam a financiar e a dispensar professores para frequentarem cursos que nada acrescentam ao seu desempenho profissional? Como é possível que se possa subir na carreira com base na frequência de tais cursos?
Diz Nuno Crato que “tudo parece justificado por uma triste teoria pedagógica que sobrevaloriza o prazer e a espontaneidade e que menospreza os conteúdos científicos” e que “Para os alunos, mais importante do que aprender conteúdos seria “aprender a aprender”. Para os professores, mais importante que dominar as matérias, seria aplicar “pedagogias inovadoras” que levariam os alunos a questionar os saberes”
Dá como exemplo, um seminário intitulado “Dicas para ser melhor professor” onde há sessões sobre “Como utilizar a energia das cores”, “Exercícios de relaxamento, com os alunos e em casa”, “As potencialidades do Feng Shui na sala de aula” e “Leccionar tomando partido dos signos dos alunos”. Neste último, a monitora apresenta como credenciais ser astróloga numa revista. Será possível???
Realmente, eu não fazia ideia que a degradação no ensino tinha chegado a este ponto. Tenho assistido a declarações de professores com responsabilidades no processo educativo, do tipo “O que conta, verdadeiramente, não é a experiência e o saber que temos (ou julgamos ter), mas a capacidade e a vontade de experimentar coisas diferentes e aprender sempre mais, mesmo interrogando, muitas vezes, os paradigmas e as crenças que julgávamos inatacáveis”, mas não imaginava que este modo de encarar o processo educativo estava já institucionalizado. Talvez assim se compreenda melhor porque é que apesar do empobrecimento do conteúdo dos programas, os alunos continuam a ter médias tão baixas.
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