Alunos ajudam a pagar doutoramento a professores do Politécnico de Leiria
Um docente do ensino universitário pode fazer o doutoramento na universidade onde está e assim fica isento do pagamento de propinas, contrariamente a um docente do politécnico que não pode fazer o mesmo, porque o politécnico está proibido (por definição) de conceder doutoramentos. Apesar disso, é exigido o grau de doutor para se aceder à categoria de professor coordenador no politécnico. Por outro lado, o Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março, "Graus Académicos e Diplomas do Ensino Superior", promulgado em 20 de Março de 2006 pelo actual Presidente da República, estabelece no nº 2 do Artº 6 : "O grau de licenciado numa determinada área de formação só pode ser concedida pelos estabelecimentos de ensino superior que: a) Disponham de um corpo docente próprio qualificado, cuja maioria seja constituída por titulares do grau de doutor ou especialistas de elevada competência profissional".
Ora acontece que muitos dos Institutos Politécnicos já concedem o grau de licenciado há vários anos e não estão dispostos a regredir, face às novas exigências. Por isso têm de apostar no futuro, têm de arranjar meios de se desenvolver.
São conceitos de gestão... Em Portugal gastam-se fortunas em estádios, OTAs, TGVs, carros de luxo para Presidentes de Câmara, que são rapidamente inutilizados pelos presidentes que se seguem, mas para as necessidades básicas e importantes não há dinheiro! Na Finlândia os manuais escolares, os transportes e as refeições das crianças são pagas pelas escolas que frequentam. Aqui, fecham-se maternidades, fecham-se escolas, os presidentes de câmaras menos abonadas têm de fazer leilões de móveis e fotos antigas e alguns alunos para continuarem a ter direito a uma licenciatura têm de ajudar a financiar a formação dos seus professores. Que pobreza... de espírito!
Segundo o jornal Região de Leiria:
"As propinas dos alunos do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) vão ajudar a pagar a formação dos próprios professores.
Numa decisão inédita, as associações de estudantes do IPL concordaram em afectar um décimo do valor das propinas para ajudar o Instituto a atingir as metas impostas pelo Processo de Bolonha. Um processo que terá de estar concluído dentro de três anos e que implicará que a maioria dos docentes seja doutorado. Ora, actualmente o IPL tem cerca de 60 professores habilitados com o grau de doutor, representando cerca de 15 por cento do seu corpo docente. Tem aproximadamente 90 docentes em doutoramento e terá ainda de qualificar cerca de uma centena.
Direcção e estudantes do Instituto chegaram a acordo em canalizar parte das propinas para ajudar a suportar os quase seis milhões de euros que o IPL vai gastar em todo o processo. Maria Inês Maurício, presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), diz que esta decisão foi “relativamente consensual” entre os estudantes, uma vez que “as questões foram bem explicadas e se sabe para onde vai o dinheiro”. Lamentando que o Estado exija o esforço formativo sem o apoiar financeiramente, esta responsável explica que, ao contrário do que acontece noutras instituições do ensino superior – em que as propinas ajudam a pagar salários –, no IPL as propinas sempre foram devidamente aplicadas. A líder estudantil da ESTG, uma das cinco escolas do IPL, é clara: “Sabemos que vamos travar uma luta pela sobrevivência. Acreditamos que este é o melhor politécnico do país e queremos motivar os docentes a cumprir esta meta”.
Luciano de Almeida, presidente do IPL, elege o “excelente” relacionamento com as associações estudantis como uma das razões do sucesso do Instituto. Neste processo, a título individual, os docentes vão contribuir com mil euros por ano para a sua formação. Já o “desvio” de dez por cento das propinas para os doutoramentos deverá sobretudo significar o corte em verbas inicialmente destinadas às associações de estudantes. A contenção na aquisição de equipamentos e na acção social – sem afectar as bolsas – são outras consequências possíveis.
O IPL aprovou entretanto medidas de “contenção financeira”, visando canalizar verbas para o esforço formativo e foi determinado que a contratação de professores implique a exigência do grau de doutor."
(Texto de Carlos S. Almeida)
Etiquetas: Ensino Superior
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