Mais alunos nos cursos de matemática
Jorge Buescu, é um matemático que tem o dom particular de saber contar histórias. Há quem lhe chame o Carl Sagan nacional. A par da sua actividade de professor e investigador, escreve regularmente pequenos e interessantíssimos textos para a revista da Ordem dos Engenheiros, alguns dos quais foram depois coligidos e editados em livros:
"O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias: Crónicas das fronteiras da ciência", de que se pode ler uma crítica aqui e uma história aqui e "Da falsificação de euros aos pequenos mundos".
Conheço várias pessoas, que nem são matemáticos, apenas curiosos da ciência em geral e que se deliciam a ler estes livros.
Eu acho que esta atitude devia ser mais desenvolvida. Divulgação da ciência e proletarização da matemática - precisa-se!
A sua intervenção nas Novas Fronteiras da Ciência e do Conhecimento foca o problema da falta de alunos nos cursos de matemática.
"Há cerca de dez anos, havia, à entrada para a Licenciatura em Matemática do Instituto Superior Técnico, cerca de mil candidatos. Este ano, nas licenciaturas de matemática de todo o país, entraram em primeira fase cerca de centena e meia de alunos. Em particular, se fossem aplicados nos dados deste ano lectivo os critérios de só funcionarem licenciaturas com menos de vinte alunos, haveria no país inteiro duas licenciaturas a funcionar: uma no Técnico e outra no Minho. "
Será apenas uma questão de falta de qualidade de alguns dos cursos existentes?
Não me parece.
Ele defende que a solução do problema de falta de alunos passa por extinguir os cursos que não sejam "excelentes".
"... o processo de avaliação do ensino nas universidades tenha consequências e seja consequente, para que as pessoas saibam aquilo com que podem contar. E, provavelmente, não teremos vinte licenciaturas em matemática como temos hoje. Teremos meia dúzia delas, mas todas elas de excelência. "
É um problema já muito batido e para o qual têm sido propostas diversas soluções.
Claro que deve haver avaliação nas universidades e claro que ela deve ter consequências. Claro que as menos boas devem aproveitar essa avaliação e fazer tudo para melhorar. Isso é diferente de extingui-las. Mas é preciso ver que nem todos os alunos candidatos a cursos de matemática são excelentes. Há que dar lugar aos médios também. Há que captar o interesse e entusiasmo de todos e torná-los melhores a caminho da "excelência". Difundir a ideia de que a matemática é um "papão" só para excelentes não ajuda a captar alunos para cursos de matemática. E faz muita falta haver professores de matemática nos ensinos básico e secundário que saibam do que estão a falar e que saibam transmitir o gosto por esta disciplina.
Acho que a solução passa mais por actividades do género das desenvolvidas pelo programa Ciência Viva. Muita gente enveredou por um determinado curso porque passou uma tarde interessantíssima a fazer experiências no Ciência Viva. Quantos pais não passam pelo problema de entreter os filhos nas férias? Podiam juntar o útil ao agradável dando-lhes ao mesmo tempo "food for thought" inscrevendo-os numa das actividades deste Centro.
Eu própria lembro-me que quando andava no liceu (ainda não havia Ciência Viva) tive uma professora de matemática que gostava mesmo do que estava a ensinar. Entusiasmava-se tanto que muitas vezes quase caia do estrado: "Ai meninas que lá vou eu!" E levou-nos a visitas de estudo ao Centro de Cálculo da Fundação Gulbenkian, onde vimos uns computadores, na altura, monstruosos, um único computador ocupava uma sala inteira, era composto de várias unidades separadas, cada uma delas era um móvel diferente do tamanho duma secretária, ligadas por cabos grossíssimos que passavam por baixo dum chão falso, mas que realizava tarefas fastidiosas e longas e que permitia libertar o homem para actividades mais criativas. Era o futuro! É o futuro! Conquistou-me!
Mas, há que distinguir duas questões importantes. Por um lado há que atrair mais pessoas que se interessem pela ciência em geral e pela matemática em particular, por outro lado é preciso não cair na tentação de, à boleia do processo de Bolonha, a Matemática que se ensina passe a ser uma caricatura grotesca do que se aprendia há 20 anos, uma espécie de Matemática pimba.
(recomendo que explorem todos os links)
Etiquetas: Ensino Superior, Matemática
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