Um verdadeiro assassinato de cérebros
Vale a pena ler um artigo de opinião publicado hoje no jornal Primeiro de Janeiro, escrito por Paulo Ferreira da Cunha, Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade do Porto. Estou 100% de acordo com tudo o que é dito neste texto, por isso não resisti a reproduzi-lo, aqui, na íntegra.
"Parece que há quem não goste dos Professores. E queira fazer crer ao público que a culpa de tudo, desde o do déficit do Estado ao da Segurança Social, é afinal dos Professores, e, para mais, dos desempregados e dos que o possam vir a estar. Depois de tantas notícias sobre as agressões a Professores nas nossas escolas secundárias, virão agora novas agressões? Para compensar a falta de protecção de uma classe humilhada e ofendida pela barbárie? O argumento pode ser subtil, visando excitar a inveja e o desfavor gerais. Criando antipatia pela classe. Mas há que perguntar: inveja de quê? Haverá algo que mereça ser invejado na sorte dos Professores? Se eles, como Sebastião da Gama, se contentam com a infinda dádiva de ensinar, e até acham estranho serem pagos! Onde está a dignidade docente? Somos muitos e não somos tolos. Porquê a nossa passividade? Deve ser o medo, medo do desemprego.... Curiosamente é por aí que agora estamos na berlinda. Muita Comunicação Social não parece sensibilizada para o drama dos Professores, parecendo tomar as dores pela abstracção do Tesouro. Li, no dia 7 de Março, no endereço da Internet infra, mais uma notícia que merece ser ponderada, e que termina assim:“No ano passado, a Segurança social gastou 55 milhões e 600 mil euros em subsídios de desemprego mas os professores contratados só contribuíram com 38 milhões. A diferença entre estas duas parcelas dá um saldo negativo de quase 18 milhões de euros. O prejuízo surge numa altura em que o Governo até está a pensar alargar o subsídio de desemprego aos restantes funcionários com contrato administrativo. Se a medida avançar, os professores do ensino superior também passam a ter protecção social mas o Estado pode vir acumular ainda mais prejuízos.” http://sic.sapo.pt/online/noticias/dinheiro/Defice+de+18+milhoes+de+euros+na+Seguranca+Social.htm. Será que devemos concluir que o subsídio de desemprego não foi feito para os desempregados? E que os descontos para a Segurança social é que foram feitos para dar lucro ao Estado? Se assim for... Coitadinho do Estado que não serve para proteger esses malandros dos Professores contratados, que, como é público e notório, são contratados por pouco tempo por sua culpa, e descontam pouco porque querem ser despachados para o desemprego: situação regalada, porque são mesmo preguiçosos. E nem por sombras pode o subsídio de desemprego ser reconhecido como um direito a esses madraços dos Professores do Ensino Superior. Direito de qualquer trabalhador? Quem disse que um Professor trabalha? Privilegiados, que labutam a vida inteira, com a carreira reconhecidamente mais complexa, exigente e longa de todas, públicas e privadas, que queimam as pestanas toda a vida, sem férias, nem domingos e feriados, que consomem em investigação e correcção de provas e teses, etc....tudo isto para auferirem salários em nada compatíveis com as suas habilitações. Estes nababos, depois de uma vida de dedicação – tendo feito, no limite, por junto, bacharelato, licenciatura, mestrado, doutoramento, e até agregação, escrito dezenas, centenas ou milhares de artigos e até dúzias de livros, registado patentes, realizados exposições, congressos, etc. (conforme as suas especialidades) - podem ser postos na rua... sem um tostão nem um obrigado. E ficam, obviamente, com a vida destroçada. Porque mandar para o desemprego um Professor universitário é, além de um desinvestimento criminoso para o Pais – um País que precisa de quem pense - um verdadeiro assassinato dos cérebros. Quem, sabendo o que o espera na carreira académica agora (no meu tempo era impensável o desemprego de universitários: havia era falta), quererá optar por essa vida, vendo que terá muito mais por muito menos em alternativa: na iniciativa privada, ou até na burocracia do Estado? Um docente que dedicou a vida ao sacerdócio do ensino, como é o caso normal dos docentes universitários, e que é decapitado na sua carreira, por uma decisão economicista ou uma facada nas costas, é alguém a que se rouba a vida, porque se rouba a esperança, e a crença na instituição que o animou. Não sei o que acontecerá aos colegas. Receio o pior. Mas espero que consigam dar a volta por cima. E o meu maior desejo é que triunfem na vida, provando que não é quem não sabe que ensina. É quem sabe melhor. Por isso, inveja por inveja, façam inveja aos que ficarem, vencendo nas vossas novas vidas. E tendo finalmente as remunerações, o prestígio, e o tributo público que uma sociedade mesquinha e invejosa vos negou sempre."
Etiquetas: Ensino Superior
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