Sempre achei que a realidade ultrapassa a ficção.
E mais uma vez se confirma.
Passamos uma vida inteira a cultivar nos filhos e nos alunos o gosto pelo trabalho honesto, o gosto pela honra, pela verdade, para agora nos virem lá do alto dizer que “um percurso académico exemplar” está nos antípodas disto tudo. É o ruir de toda uma concepção de vida!
É caso para um pai de família colocar uma bolinha no canto superior direito da TV quando derem estas notícias, pois são altamente deseducativas.
Não sabemos o que o futuro nos reserva. Que desculpa irão arranjar para justificar a existência de dois certificados com datas, cadeiras e notas diferentes? Na minha lógica binária, e porque sou uma pessoa de ciências exactas, uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Um, pelo menos, dos certificados é falso! E o que é que devia acontecer a quem falsifica documentos?
A atitude normal, de quem não deve, não teme e tem um nome a defender, seria mandar averiguar. Até para própria defesa. Mas não! Prefere-se dar o caso por encerrado. O que só por si mostra a quem (não) interessa a verdade.
No entanto, pelo menos numa coisa estamos esclarecidos: pode nunca se saber a verdade, mas a partir de agora conhecemos o carácter ou a falta dele e o que podemos ou não esperar de quem acha que isso não é importante.
Mas o que ofende é ver que a lei não é igual para todos: há os que sofrem e a ela obedecem, e depois há outros, que levianamente a atropelam, porque podem.
O caso Sócrates permite avaliar uma fractura importante, tornada explícita pelas diversas reacções públicas e políticas já conhecidas: o actual nível de ética e moral, publicamente exigível a governantes e responsáveis políticos em geral.
Na entrevista que o primeiro-ministro deu em 11/04/07 e que ainda se pode ouvir aqui, Sócrates disse mudou do ISEL para a UnI porque ficava ali ao lado do ISEL, pelo horário pós-laboral e pelo prestígio. Acontece que nessa altura, a UnI não funcionava onde funciona hoje, mas sim na Rua Fernando Palha, que fica a cerca de 4 km do ISEL. Não é nada ali ao lado. A UnI só mudou para as actuais instalações, a umas centenas de metros do ISEL, no início de 1996, enquanto que Sócrates entrou para a UnI em 1995.
Quanto ao horário pós-laboral, o ISEL sempre teve este horário. Todos os alunos que queiram podem frequentá-lo. Acontece mesmo que os testes e exames que envolvem todos os alunos duma mesma cadeira são feitos à noite, ou seja, dando prioridade às preferências dos estudantes-trabalhadores.
Quanto ao prestígio, o curso do ISEL que Sócrates frequentou era um CESE (Curso de Estudos Superiores Especializados) que concederia não só equivalência a licenciatura mas também, mediante parecer do Conselho Científico sobre o "conjunto coerente" entre o bacharelato de ingresso e o próprio curso, o próprio grau de licenciado. Além disso, os cursos do ISEL vieram a ser reconhecidos pela Ordem dos Engenheiros o que nunca sucedeu com o curso que Sócrates frequentou na UnI.
Ou seja, os motivos apresentados para a mudança do ISEL para a UnI são falsos!
Os verdadeiros motivos são fáceis de adivinhar...
No caso dos certificados falsos e do desaparecimento do original do currículo no Parlamento, não está provado quem é o autor, mas neste caso a prova de falsidade foi dada em directo pela RTP e ainda se pode ver.
Etiquetas: Política
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