Carlos Paredes - uma perda irreparável, uma música irrepetível - a arte de dizer tanto usando apenas uma guitarra!
Ouvir um pouco da sua música e mais um pouco
Carlos Paredes e os ritmos: “Os ritmos são ditados pela vida. É evidente que o ritmo do homem urbano é o trânsito, as formas da vida, às vezes a imposição de certa música ou filme. É um ritmo em grande parte ditado por uma máquina e, muito justamente, a música ligeira assimila esse ritmo, não pode é ter a pretensão de dar-nos os ritmos africanos, pois esses são ditados pelas necessidades do homem e não da máquina”.
Carlos Paredes e a falta de condições de trabalho: “Durante anos fiz muitos espectáculos, sem receber remuneração, em circunstâncias técnicas bastante difíceis: más aparelhagens, salas sem condições acústicas, e, muitas vezes, ao ar livre, que me deixavam uma sensação desagradável, pouco estimulante para quem quer fazer um disco nas melhores condições de sonoridade”.
"Sou um instrumentista popular. Tudo o que tenho da música erudita é apenas aquilo que me é exigido por uma cultura geral tão bem fundamentada quanto possível. (...) Se alguma coisa está por dentro da música, da poesia, da ciência, enfim, é a realidade. Se sinto a música de um lado e a realidade do outro, não tenho dúvidas: estou a viver uma ilusão, uma falsa música ou uma falsa realidade." É assim que, no início dos anos 80, se define aquele que foi, e é, um dos escassos vultos da música portuguesa que recolhe a unanimidade de opiniões e é reconhecido como um génio - o guitarrista Carlos Paredes.
GUITARRA(Carlos Paredes)
A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.
Asa e navalha. E campo de Batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).
Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir.
Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.
Poema de Manuel Alegre
Carlos Paredes nasce em Coimbra, a 16 de Fevereiro de 1925., numa família de músicos amadores que, ao longo de gerações, se dedicou ao estudo e aperfeiçoamento da guitarra portuguesa - com destaque para o seu avô e o seu pai, Gonçalo e Artur Paredes. É com o pai Artur, aliás, que Carlos Paredes aprende desde muito novo a dedilhar a guitarra, iniciando aí uma paixão que o acompanharia para toda a vida. Em 1934 a família Paredes muda-se de Coimbra para Lisboa, cidade onde Carlos passa definitivamente a viver. Frequenta aí o Liceu Passos Manuel e o Instituto Superior Técnico...
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