Eu vou mais longe
Eu proponho que se ponham os pais de todos os arguidos a avaliar e classificar os juízes.
Que se ponham os pais de todos os que são autuados pela polícia de trânsito a avaliarem e classificarem os polícias.
Que se ponham os avós dos professores a classificar os ministros de educação.
Os maridos das grávidas a classificar os obstetras.
Os irmãos dos jogadores a classificar os árbitros de futebol.
Os tios dos doentes a classificar os médicos.
Os sobrinhos dos escritores a classificar os editores.
...
Ah! E porque não? Os contínuos e funcionários administrativos das escolas a classificar os alunos! E os alunos a classificar os pais.
...
Avaliações, sim! Tem que haver! Mas por quem esteja por dentro do assunto, por quem tem competência para tal!
O facto de eu defender que tem que haver exames, não me dá competência para ir classificar alunos noutra disciplina, que não a minha!
A propósito, saíu hoje no Público um comentário de José Victor Malheiros, de que transcrevo algumas partes:
"... a medida [avaliação dos professores pelos pais] faz sentido para aqueles pais que vemos nalgumas sitcoms americanas e em mais sítio nenhum, que tomam o pequeno-almoço em conjunto com o rancho de filhos na cozinha,..., enquanto discutem as aulas que cada um vai ter nessa manhã e combinam com o filha mais velha a escolha do material que ela vai usar no seu projecto de ciência. Estes pais, ... até conhecem a fundo os seus problemas. Para os pais das sitcoms, tudo seria fácil. O problema é que os pais portugueses ... na sua esmagadora maioria não conhecem a esmagadora maioria dos professores dos seus filhos, conhecem mal a escola que eles frequentam e muito menos conhecem as matérias que estes aprendem e a forma como elas são ministradas. ... a proposta é triplamente infeliz porque concede a um grupo um poder que não se baseia em nenhuma competência específica, porque admite o princípio da avaliação sem critério e porque dá aos pais uma falsa sensação de participação na educação dos seus filhos. ... É verdade que há pais envolvidos na vida escolar e cuja opinião sobre os professores tem qualidade e poderia ajudar a escola a melhorar? É verdade, mas a opinião desses (os pais militantes, os pais das associações) a escola já a conhece e já a toma ou deve tomar em conta na sua actividade. Um Livro de Reclamações e de Sugestões em cada escola seria mais útil para aproveitar a boa-vontade destes pais que uma avaliação de professores. O que os pais poderiam fazer -porque disso têm um maior conhecimento que de cada professor individualmente e porque disso poderia nascer uma maior consciência da necessidade do seu envolvimento na vida da escola - seria uma avaliação das escolas dos seus filhos. O preenchimento de um inquérito sobre níveis de satisfação em vários domínios (incluindo a qualidade geral dos professores) seria certamente muito útil, se não para avaliar a qualidade absoluta, pelo menos para avaliar a percepção dos pais e a evolução da sua satisfação com o sistema."
Uma outra opinião pode ser vista no "A Memória Flutuante". Aí diz-se e com toda a razão:
"...Ora estes [os professores], como qualquer outro profissional, devem ser objecto de avaliação. E aceito, sem nenhum constrangimento, que os parâmetros de avaliação sejam mais latos do que aqueles que possam ser obtidos em contexto mais fechado, ou seja, em círculo de pares (como aliás acontece na Universidade quando estão em causa decisões de carreira). ... Alargar o círculo para a esfera do social – incluindo os pais – é totalmente desprovido de sentido. Não se vê como possam os pais “apreciar… a actividade lectiva dos docentes” ... a não ser pelo que lhes é contado pelos filhos e muito indirectamente pelos produtos da disciplina que eventualmente possam ser exibidos por eles. ...
Que outra categoria profissional está assim exposta ao arbítrio de juízes em segunda mão?"
Que outra categoria profissional está assim exposta ao arbítrio de juízos tecnicamente incompetentes?
Como pode algum professor classificar os alunos com isenção, se está a pôr em causa a sua sobrevivência? Não é preciso ser muito inteligente para chegar à conclusão que é mais seguro deixar passar os alunos sem saber! E assim se compreende como é que os alunos chegam à Universidade cada vez mais mal preparados.
Claro, que se for só para avaliar a sensibilidade humana, a afectividade, a dedicação, a abertura de espírito, a personalidade … todos podemos emitir opiniões sobre todos.
Mas NÃO PODEMOS prejudicar profissionalmente ninguém, só porque não gostamos da sua personalidade!!!
No jornal Público de 7.6.2006, num artigo intitulado "Professor, para o ano o meu pai ...", pode ler-se a opinião de Eduardo Prado Coelho, que por ser de acesso restrito, apenas retiro algumas frases: " ... A campanha de desvalorização da imagem dos professores tem levado os pais a sentirem-se legitimados ... Não há transmissão de saber nem pedagogia que possa vingar nestas circunstâncias... Os resultados só podem ser um abaixamento da exigência nas escolas.... é arrepiante a forma deliberada com que se está a massacrar um sistema que era fundamental para a recuperação do país em termos económicos. Há aqui uma dose de irresponsabilidade que chega a ser criminosa. ... um futuro totalmente comprometido. "
Revista Sábado em 9.6.2006: "... ao contrário da cultura profissional dos médicos, a cultura profissional dos professores não é orientada para o mérito e para os resultados." Quem disse isto? Toda a gente sabe!... É injusto! Eu também sou professora e embora seja doutro ministério, sinto-me ofendida.
Etiquetas: Ensino
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