Teremos de ser todos doutores ou engenheiros?
Para quê pressionar os professores a inflacionar as classificações dos alunos e a obter taxas de aprovação fictícias, ou seja, a “passar” alunos que nada sabem? Para quê produzir licenciados à força, que apesar de terem um canudo, ficam desempregados ou vão ter de se contentar com tarefas muito abaixo das habilitações que legalmente possuem?
A verdadeira questão é esta.
Não é avaliar ou não professores. É inventar uma pseudo-"avaliação" que obriga os professores a passar alunos que não aprenderam nada. É obrigar professores a ter na sala de aula alunos que estão ali contrariados, que estão a incomodar os colegas, que não são dotados para o pensamento abstracto e que seriam muito mais felizes e úteis se estivessem a aprender trabalhos manuais.
Não perceberam que o feitiço se vira contra o feiticeiro?
Obrigar toda a gente a ficar com o 12º ano é contraproducente. O 12º ano é preparatório para o ensino superior e nem todos o podem seguir. Há muitos alunos que detestam essas aulas e ficariam muito mais realizados se frequentassem cursos que os habilitassem a tarefas mais práticas: mecânicos, electricistas, cozinheiros, caixas, vendedores, administrativos, recepcionistas, etc. Para estes até há empregos. Neste momento há milhares de licenciados que os aceitam, apesar de exigirem muito menos habilitações académicas do que as que possuem. Os cursos que tiraram foi tempo e dinheiro mal gasto. E sentem uma profunda frustração pessoal. Mais um desperdício de dinheiros públicos e privados!
Temos de ser todos doutores ou engenheiros?
Vendo bem, até é perfeitamente compreensível este tipo de medidas, agora.
O exemplo vem de cima. Quando alguém que subiu a altos cargos políticos sente que não é ninguém se não tiver o estatuto de licenciado, ao ponto de dar um “jeitinho”, um pequeno “arredondamento”, nas habilitações que declara em documentos escritos oficiais, é natural que queira impor que todos os cidadãos sejam doutores ou engenheiros. Nem que seja à força! À força de cortar a cabeça aos professorzecos (como a equipa ministerial designa os docentes) que se atrevam a recusar esse estatuto a algum dos alunos que se inscrevem nas suas aulas.
São mentalidades...
Se o sucesso duma fábrica de chouriços se mede pelo número de chouriços que produz, então a avaliação dum professor faz-se contabilizando o número de alunos que aprova. Certo?
Entra carne, sai chouriço... ou salsicha...
Entra aluno, sai doutor... ou engenheiro...
É um raciocínio simples (ou será simplex?), mas errado!
Há simplificações abusivas que conduzem a resultados errados.
Por exemplo: reduzir o termo “engenheiro técnico” a “engenheiro” é um erro muito grosseiro... cometido por gente com responsabilidade e que já deu origem a muitas trapalhadas.... Na altura em que estes factos se passaram, o primeiro termo correspondia a um bacharelato (curso de 3 anos, no subsistema politécnico), enquanto o segundo correspondia a uma licenciatura (curso de 5 anos, no subsistema universitário).
Eu já tive uma empregada doméstica que era licenciada.
Seria muito mais proveitoso para ela, para mim e para o país que ela tivesse tido alguma preparação profissional para as tarefas que executa. Eu nunca precisei que ela soubesse o teorema de Weierstrass, mas ela sabia-o.
Há pessoas a diminuir o seu currículo para conseguir colocação.
Para quê encher o mercado de licenciados, se não há empregos para eles?
Porque não meter os meninos que não gostam de ir à escola tradicional em escolas profissionais, onde realmente teriam mais proveito? Eles e o país!
Porque não admitir que não somos todos iguais? E ainda bem!
Porque não dar a cada um uma formação de acordo com a sua vocação?
Sobre a falta de exigência, a falta de autoridade e a imensa dificuldade de fazer reprovar, ler também aqui.
“Professorzecos”... ver aqui: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, ...
Eu não dependo deste ministério, mas estou solidária com todos os dignos profissionais que exercem a docência e foram arrogantemente amesquinhados. Haja limites para a falta de educação!
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