Valerá a pena mudar?
Só não vê quem não quer ver.
Há coerência na actuação do Governo. Mudar de ministro sem mudar de política, não adianta nada.
Há uma vaga de fundo imparável, messiânica de contra tudo e contra todos resolver o problema do défice e das contas públicas. Até aqui muito louvável.
Mas à custa de quê?
A ideia não é nova, já Salazar a teve e pôs em prática.
Os ministérios da educação e o da saúde são os que dão maior despesa.
Portanto, um raciocínio linear e directo leva a que se corte nos gastos nestes sectores, sejam quais forem as consequências.
É triste, mas é o que se está a passar: acabar lenta e despudoradamente com a escola pública e com o serviço nacional de saúde.
Não serve de nada mudar os ministros se a política continua a mesma.
É por isso que o PSD anda às aranhas. Já não tem espaço político. Este PS ocupa todo o espaço à sua direita. Por outras palavras: com um PS destes, quem precisa dum PSD ou CDS?
Vejam o emaranhado, a complexidade do processo burocrático que envolve esta avaliação. (E depois falam em simplex e em desburocratização...)
Imagem da Revista Visão de 06/03/2008. (Clicar para ampliar)
Que tempo resta para ensinar? A cabeça dos agentes educativos fica atafulhada de tarefas estupidificantes, inúmeros papeis para preencher e não sobra um cantinho para o que devia ser a sua mais nobre missão: ensinar. Além disso, são obrigados a permanecer num local sem o mínimo de condições para pensar e trabalhar. Eu sei o que é ter de passar os intervalos numa sala de professores, onde há cerca de 20 pessoas a conversar sobre tudo e sobre nada, a falar ao telefone e a fazer barulho. Sem secretárias, muito menos computadores. Como pode um professor aproveitar esses tempos, fora das aulas, para trabalhar, para aprofundar a sua formação científica, ou para pensar? Completamente impossível! Em casa ou no jardim sempre se consegue mais privacidade, ambiente de estudo e capacidade de se concentrar. Fala-se tanto em comparar uma escola a uma empresa. Nas empresas os funcionários têm um local de trabalho. Mesmo no ensino dito superior, muitos docentes não têm um local de trabalho, quanto mais os docentes do básico e secundário. Isto passa-se numa escola superior pública em Lisboa, não é nos confins da província. Tenho colegas que compraram a secretária e a cadeira onde se sentam e instalaram num cubículo que conseguiram surripiar mediante secretas manobras de bastidores. Outros nem isso. Lâmpadas, papel e material de escrita, temos de levar de casa. Isto para não falar de computadores ou de ar condicionado.
Qualquer pai que se preze e tenha possibilidades para isso, não sujeita os seus filhos a esta fantochada, simulacro de escola. Se quiser que eles tenham uma formação a sério, que eles aprendam alguma coisa, que eles consigam entrar num curso de medicina, têm de os colocar numa escola privada, ou contratar bons e caríssimos explicadores.
Custa muito mais que nos tentem enganar, do que dizer as verdades, por mais duras que sejam. Por favor, digam-nos claramente, a todos os cidadãos, ao País, que o Estado não suporta as actuais despesas com a educação pública nem com o serviço nacional de saúde e que se está a fazer tudo para reduzir os seus raios de acção e em consequência os seus gastos. O resto é folclore.
O que se quer é pura e simplesmente privatizar a saúde e a educação.
Não nos enganem dizendo que estão a cuidar dos alunos e das futuras gerações, quando estão apenas a economizar, mas economizar sem racionalizar, sem iliminar os gastos supérfluos, mas sim e erradamente, cortando no que é básico e essencial.
Transcrevo para aqui, por concordar inteiramente, com o que escreveu um meu ex-colega:
Educação e exemplos
"Os professores perdem autoridade e, para mascarar as estatísticas, são obrigados a passar quase todos os alunos. Se não o fazem hoje têm de apresentar justificações intermináveis e sujeitar-se a sanções. Se não o fizerem no futuro serão penalizados nas avaliações que se aproximam podendo vir a ser despedidos.
Não sei se o leitor entrou numa escola e viu as instalações dos professores: geralmente estão amontoados numa sala comum, com umas mesas e cadeiras, aí têm de ver testes, preparar aulas, estudar e estar de plantão esperando por uma aula de substituição.
As instalações são, na esmagadora maioria dos casos, deprimentes, frias, sem aquecimento no Inverno e sem ar condicionado no Verão, os professores não dispõem de computadores ou de postos de trtabalho. Uma miserável secretária onde coloquem os livros ou pastas é um luxo inacessível e um gabinete de trabalho para os docentes é um mito impossível.
Os professores são sujeitos a pressões constantes do ministério e das múltiplas direcções regionais, não para ensinar melhor, mas para passar os meninos e melhorar as estatísticas. Os professores não são motivados para realizar actividades com os alunos, isso custa dinheiro e dinheiro é tudo o que não se pode gastar.
Diz assim o governo que o insucesso escolar diminuiu drasticamente, eu, como professor universitário, fora do meio do liceu, eu que tenho gabinete, biblioteca, aquecimento e arrefecimento, computador, secretária e estantes para colocar os livros, afirmo que a diminuição do insucesso é mentira, uma descarada e redonda mentira.
Para mim o sucesso é o conhecimento, é a cultura, é a esperança numa educação que, mais do que passar no fim do ano, é preparação para o mundo e uma ética de vida. Os números têm descido mas os alunos que me chegam todos os anos à Universidade são, cada ano que passa, pior preparados. Não falo de meia dúzia de alunos: falo de centenas ou mesmo milhares que passam pela minha cadeira no Instituto Superior Técnico onde tenho, mesmo assim, a sorte de ter os melhores alunos do país. E acuso: acuso estes governantes de mentirem. Mentem ao país, aos pais, aos estudantes e à Europa, ao mascararem os números do insucesso forçando aprovações em massa de alunos que nada sabem. O pior nem é serem tacanhos, mesquinhos, punitivos, persecutórios, o pior é que se andam a enganar a eles próprios e a destruir uma geração com um facilitismo irreal.
Educação não é burocratização e punição. Educação é, sobretudo, motivação e ética. Educar é uma tarefa elevadíssima em que o menor dos bens é o conhecimento puro. Educar é formar cidadãos e essa é a menor das preocupações dos governantes de hoje. E é tão simples: bastaria começar por dar bons exemplos..."
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