Funcionários públicos a mais?
Muito se tem falado no excesso de funcionários públicos. Eu devo ser uma E.T., pois nos sítios por onde tenho passado, só vejo falta, não excesso. Se vou à Repartição de Finanças, ou mesmo à Loja do Cidadão, tenho sempre uma fila enorme de pessoas à minha frente. A minha mãe foi ao Arquivo de Identificação tirou uma senha pelas 10:30h da manhã e só foi atendida às 3:30h da tarde!!! As certidões demoram eternidades a ser emitidas.
Há dias estive a visitar o Arquivo Central da Marinha, um lugar interessantíssimo, onde tive o privilégio de ver manuscritos (os originais!) de documentos antigos extremamente significativos da nossa História. Vi ao vivo o “Diário Náutico do Iate Real Amélia, 1895-1910”, onde se relata a revolta da implantação da República em 5 de Outubro de 1910, vista a partir do Tejo e a posterior fuga, neste Iate, do Rei de Portugal e comitiva.
Pois um arquivo tão importante como este, tem um número reduzidíssimo de funcionários, que trabalham mais por gosto, do que por recompensa adequada. Nesta semana em que fez tanto frio, não tinham sequer um aquecimento. A única climatização disponível, era para os arquivos. Estes também não primavam por grandes recursos. Usam-se caixas muito velhas, cartões, papel e corda para guardar um espólio valiosíssimo! Não há verbas para mais. A era da digitalização ainda não chegou ali.
Esperemos que a sorte, um milagre, proteja e preserve estes documentos. Mesmo à portuguesa!
Muitos serviços públicos mantêm-se mais pela “carolice” dos seus funcionários do que por uma gestão adequada dos recursos humanos e materiais.
No Departamento onde lecciono quase todos os docentes têm um horário com mais horas do que lhes é contratualmente exigido.
Li há dias (no Expresso de 29.01.2005) que um despacho de Manuela Ferreira Leite de 2002, segundo o qual todos os organismos e serviços do Estado deviam fundamentar a necessidade dos contratos celebrados com os trabalhadores ou prestadores de serviços que se encontrassem a trabalhar para o Estado sem vínculo à Função Pública, fez com que os juristas que trabalhavam para a DGV (Direcção Geral de Viação) ficassem numa situação de indefinição contratual. Alguns foram preteridos em concursos, e dispensados, depois de muitos anos de serviço. Cada um destes juristas despachava uma média de 600 autos por mês e a ausência deste trabalho contribuiu para o atraso no processamento de mais de 50 mil autos de contra-ordenação. Com isto o Estado teve um prejuízo de mais de 22 milhões de euros!
Realmente, esta ânsia de resolver o problema do deficit à custa de desinvestimento na função pública revela-se contraproducente.
Etiquetas: Política
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