"que se resolve contando pelos dedos"
Dentro de algum tempo é a isto que estaremos reduzidos: contar pelos dedos, tal é a degradação do ensino da matemática. Também para ser político não deve ser preciso muito mais... para ser engenheiro já não chega... Bem, depende...eu não estava a pensar nesse...
Mas para que precisamos nós de engenheiros? Importa-se tudo. Basta apostar no sol, na praia e no golfe.
Segundo o Público de hoje, "a Associação de Professores de Matemática (APM) considerou que o exame nacional de 9.º ano da disciplina foi o "mais fácil" desde que a prova se realiza, sublinhando que algumas questões poderiam ser respondidas por alunos do 2º ciclo. Também a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) criticou o reduzido grau de dificuldade do exame, sublinhando que "a nivelação por baixo" poderá ter custos futuros "muito graves".
a SPM critica, porém, que aos alunos do final do terceiro ciclo deveria "exigir-se" outro tipo de dificuldade, exemplificando com a questão 1, "que se resolve contando pelos dedos", a 3, que "pode ser facilmente resolvida por alunos do 1º ciclo", ou a 6, que "envolve percentagens tão simples que qualquer aluno do 2º ciclo deveria ser capaz de resolver". [...] "Os conhecimentos testados não estão ao nível do que se deveria esperar de um aluno no final do Ensino Básico. Não são avaliados importantes tópicos que devem ser dominados no 9º ano, como sistemas de equações, proporcionalidade inversa, polígonos e áreas de polígonos", entre outros."
Aqui pode ver-se a prova de aferição do 2º ciclo, de 2008.
Vejamos algumas das "difíceis" perguntas desta prova.
O prisma está lá desenhado, basta contar os vértices, não é preciso nenhum conhecimento matemático, nem sequer saber o que é um prisma.
Basta contar as pintas e multiplicar por 2. É este o conhecimento matemático que esta questão pretende avaliar, a multiplicação 2x2=4?
Aqui nem sequer uma multiplicação, nem sequer saber o que é um quadrilátero! É só saber o que quer dizer "iguais"!!! Isto é matemática???
Aqui o conhecimento matemático que se testa é saber que a seguir ao 2, 3 e 4 vem o 5!!!
Esta pergunta responde à questão 5, se é que alguém ainda tinha dúvidas.
Mais uma vez o que se testa aqui é o conceito de "igual". Um conceito tenebroso, pelos vistos, e eu que não sabia!
Com estes exemplos concretos de perguntas na prova de aferição do 2º ciclo, deste ano, qualquer pessoa pode avaliar a complexidade desta prova.
A Sra Ministra da Educação disse que "o nível de complexidade de uma prova tem técnicas, não é uma questão de opinião, é uma questão de validação técnica, com recurso a técnicas estatísticas...".
Não são precisas "técnicas estatísticas" para ver que isto é uma burla aos pais que mandam os seus filhos para a escola pública.
É este o rigor e exigência de que falava Cavaco Silva no 10 de Junho?
Admiro-me agora como é possível eu ter alunos que sabem resolver integrais... Provavelmente daqui a uns anos, vou ter de fazer testes a perguntar se um integral de linha é igual a um integral de superfície e com isso justifico que cumpri os pontos do programa relativos a estes integrais.
A prova do 9º ano pode ver-se aqui.
Mais uma vez só com as avançadíssimas "técnicas estatísticas" mencionadas pela Sra Ministra se consegue vislumbrar a complexidade dos conceitos matemáticos que esta pergunta pretende testar.
Etiquetas: Ensino, facilitismo, Matemática
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